Analisando o fenômeno do ié-ié-ié, Roberto Freire, psicanalista e estudioso das relações e manifestações sociais dos jovens, diz:
“Uma das causas dominantes do progresso é o choque das gerações. OS mais velhos estão sempre em oposição ao que é novo, pois não querem abrir mão do que têm e sobre os fundamentalistas e justificaram toda a sua existência. Os antigos repelem tudo o que foge aos padrões tradicionais. Quando percebe o mundo, o jovem não se considera responsável por nada do que encontra. Mas, como precisa viver nesse mundo, a primeira coisa que faz é manifestar suas críticas. Ser jovem é ser inconformista e protestar contra o que considera superado. Formados os dois grupos antagônicos - os velhos e os jovens -, a luta se trava direta ou indiretamente, conforme o grau de coragem e medo de cada um. Rebelendo-se contra a sociedade, o jovem estabelece uma posição crítica, hostilizando essa sociedade sem a conhecer e saber por quê. Essa hostilidade cmeça em casa, contra o pai que representa tudo aquilo com que boa parte dos jovens não concorda. Depois é a vez do professor, do patrão, do político, do governo, da polícia, das leis, dos símbolos do poder da sociedade de qual ele começa a participar como simples aprendiz. A rebeldia dos jovens, enquanto não se organiza, tem caráter anárquico, embora seja sadia e não doentia. Ela tem várias formas. A rebeldia de protesto é mais comum, e com ela os adultos se acostumaram. É, normalmente, do mesmo tipo da rebeldia deliqüente, apenas mais atenuada. Ao invés de agredir pela força física, o jovem protesta: não para em casa, bebe, joga, fica vagabundo. Para se opor ao tradicionalismo, deixa a barba crescer e usa cabelos compridos, calças colantes, camisas coloridas. Inventa palavras para possuir seu próprio dialeto, com o qual choca os adultos. É uma brasa, barra limpa, mora. Na sua luta contra o mundo, encontra solidariedade entre os seus. Surgem então as turmas, os grupos. E, em turmas, os jovens vão fazer alguma coisa que expresse o seu protesto. O jovem é, por natureza, alegre. Por isso quer aproveitar tudo que esse mundo possa oferecer de melhor. Sendo assim, recorre à música e à dança para protestar, fazendo algazarra em público, numa embriaguez que às vezes chega à histeria. Roberto Carlos e todos os seus seguidores são jovens que adotaram a rebeldia de protesto. Para eles, os Beatles representam um símbolo maravilhoso de rebelião contra a sociedade dos adultos. Eles conseguem, imitando-os, ser ruidosos, vulgares, ridículos, dispondo de condições para cometer muitos crimes contra a sociedade tradicional, crimes que geralmente os pais e as autoridades reprovam. E ainda conseguem ganhar muito dinheiro com isso”.
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